terça-feira, 22 de dezembro de 2015

SOMOS UM TEXTO

Sim...
Somos um texto e vamos nos escrevendo cotidianamente.
Talvez sejamos aquele texto leve que todos querem ler.
Ou aquele divertido que levamos para toda a parte.
Quem sabe um texto cheio de mistérios que muitos querem desvendar?
Podemos, ainda, ser aquele texto que ninguém quer ler.
Muitos se constroem com palavras estruturadas e cada uma delas é milimetricamente planejada e o resultado se pauta na coesão e coerência.
Tem os que são construídos baseados em outros textos, não se criam ou se recriam, estão sempre à espreita, esperando uma palavra ao vento para agregá-la, tecendo-se em meio a pontos e vírgulas, aspas e parêntesis, mas acabam sendo lidos, e, por vezes, sendo bem sucedidos.
Há ainda, os que não são pensados, nem planejados, tampouco provenientes de outros textos. São frutos de aventuras, onde as palavras são capturadas nas emoções de um vôo de asa delta, na escalada de uma montanha íngreme, em um mergulho no mar límpido e azulado contrastando com o colorido dos seres que ali habitam e o resultado é extraordinário. Fazem o coração dos que o leem palpitar em rios de adrenalina e despertam os mais improváveis sentimentos, de paixões extravagantes, amores platônicos ou saudades, muitas saudades...
É triste pensar naqueles que têm seu enredo modificado por textos alheios, às vezes sem permissão. E incluem parágrafos tristes, cujas páginas são marcadas com as gotas das lágrimas derramadas e porque não com sangue? E assim vai sendo tecido na máquina da vida sem que aquele parágrafo possa ser completamente apagado, pois, já foi impresso, editado e reeditado. Mas alguém sempre abrirá aquela página... e ressuscitará as lágrimas que outrora estavam perdidas no meio de outros textos que foram sendo escritos, com novos enredos, querendo escapar daquele episódio e quem sabe, construir um final feliz .
Muitos ficam empoeirados, em um canto da estante... afinal, não trazem sobre si aquelas capas coloridas, cheias de elementos que engodam os olhos. Mas de repente, alguém os abre e vê o quão interessante é seu conteúdo e começa a se perguntar por que ninguém se interessou em lê-lo. Quantas qualidades estão nas linhas e entrelinhas daquele texto!!
Podemos ser também um texto diferente que causa receio porque não está alinhado aos parâmetros das normas cultas. Tem que ser revisto, corrigido, para que então seja aprovado e publicado. Imagine! Um texto assim... sem ortografia, sem concordância verbal e nominal... onde já se viu? Completamente incoerente, sem sentido... foi tecido com palavras soltas, desconectadas... não se encaixa nas normas técnicas... descartem-no ou deixem-no em um canto qualquer, pois, não é digno nem de ser avaliado!!
A vida é mesmo esse livro escrita por diversos autores, lida por tantos quantos queiram e julgada por aqueles que não contribuíram com uma palavra sequer para que se tornasse ‘apto’ para estar em exposição nas melhores e mais conceituadas livrarias. Tampouco leram as mensagens, os pedidos de ajuda, os gritos sufocados por corretivos ou mesmo apagados por alguma borracha, ocasionando uma mancha, que só será limpa se a página for substituída por outra, com a oportunidade de ser reescrita.
Mas ainda assim, saberemos que um dia aquela palavra errada foi escrita no livro de nossas vidas. A borracha pode até tê-la apagado, mas a marca ficou no papel. E sempre, ao voltarmos naquela página, nos lembraremos daquela palavra.
Há borrachas que apagam, mas nos dão oportunidade de escrever novamente, do nosso jeito, contudo, há aquelas que apagam de uma maneira tal que rasgam o papel e aquele pedaço ficará para sempre inutilizado e todo o seu entorno amassado. Papeis que se rasgam e/ou amassam têm um destino certo: o descaso. Ou viram aquela bolinha que é lançada de um lado para o outro, até que acabe em um canto qualquer do chão ou na lixeira. O lixo é o destino mais triste de um texto, cujo papel foi rasgado sem poder ter o seu final escrito como o seu autor queria.
Pois é... somos sim um texto!! Mas que tipo de texto?
Escolha ser aquele que simplesmente é escrito sem se importar se será lido ou não, mas que ao final terá vivido e provocado intensas emoções naqueles que ousaram tirá-lo da estante...
Butterfly



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