SOMOS UM TEXTO
Sim...
Somos um texto e vamos nos escrevendo cotidianamente.
Talvez sejamos aquele texto leve que todos querem ler.
Ou aquele divertido que levamos para toda a parte.
Quem sabe um texto cheio de mistérios que muitos querem
desvendar?
Podemos, ainda, ser aquele texto que ninguém quer ler.
Muitos se constroem com palavras estruturadas e cada uma
delas é milimetricamente planejada e o resultado se pauta na coesão e
coerência.
Tem os que são construídos baseados em outros textos, não se
criam ou se recriam, estão sempre à espreita, esperando uma palavra ao vento
para agregá-la, tecendo-se em meio a pontos e vírgulas, aspas e parêntesis, mas
acabam sendo lidos, e, por vezes, sendo bem sucedidos.
Há ainda, os que não são pensados, nem planejados, tampouco
provenientes de outros textos. São frutos de aventuras, onde as palavras são
capturadas nas emoções de um vôo de asa delta, na escalada de uma montanha
íngreme, em um mergulho no mar límpido e azulado contrastando com o colorido
dos seres que ali habitam e o resultado é extraordinário. Fazem o coração dos
que o leem palpitar em rios de adrenalina e despertam os mais improváveis
sentimentos, de paixões extravagantes, amores platônicos ou saudades, muitas
saudades...
É triste pensar naqueles que têm seu enredo modificado por
textos alheios, às vezes sem permissão. E incluem parágrafos tristes, cujas
páginas são marcadas com as gotas das lágrimas derramadas e porque não com
sangue? E assim vai sendo tecido na máquina da vida sem que aquele parágrafo
possa ser completamente apagado, pois, já foi impresso, editado e reeditado. Mas
alguém sempre abrirá aquela página... e ressuscitará as lágrimas que outrora
estavam perdidas no meio de outros textos que foram sendo escritos, com novos
enredos, querendo escapar daquele episódio e quem sabe, construir um final
feliz .
Muitos ficam empoeirados, em um canto da estante... afinal,
não trazem sobre si aquelas capas coloridas, cheias de elementos que engodam os
olhos. Mas de repente, alguém os abre e vê o quão interessante é seu conteúdo e
começa a se perguntar por que ninguém se interessou em lê-lo. Quantas
qualidades estão nas linhas e entrelinhas daquele texto!!
Podemos ser também um texto diferente que causa receio
porque não está alinhado aos parâmetros das normas cultas. Tem que ser revisto,
corrigido, para que então seja aprovado e publicado. Imagine! Um texto assim...
sem ortografia, sem concordância verbal e nominal... onde já se viu?
Completamente incoerente, sem sentido... foi tecido com palavras soltas,
desconectadas... não se encaixa nas normas técnicas... descartem-no ou
deixem-no em um canto qualquer, pois, não é digno nem de ser avaliado!!
A vida é mesmo esse livro escrita por diversos autores, lida
por tantos quantos queiram e julgada por aqueles que não contribuíram com uma
palavra sequer para que se tornasse ‘apto’ para estar em exposição nas melhores
e mais conceituadas livrarias. Tampouco leram as mensagens, os pedidos de
ajuda, os gritos sufocados por corretivos ou mesmo apagados por alguma borracha,
ocasionando uma mancha, que só será limpa se a página for substituída por outra,
com a oportunidade de ser reescrita.
Mas ainda assim, saberemos que um dia aquela palavra errada
foi escrita no livro de nossas vidas. A borracha pode até tê-la apagado, mas a
marca ficou no papel. E sempre, ao voltarmos naquela página, nos lembraremos
daquela palavra.
Há borrachas que apagam, mas nos dão oportunidade de
escrever novamente, do nosso jeito, contudo, há aquelas que apagam de uma
maneira tal que rasgam o papel e aquele pedaço ficará para sempre inutilizado e
todo o seu entorno amassado. Papeis que se rasgam e/ou amassam têm um destino
certo: o descaso. Ou viram aquela bolinha que é lançada de um lado para o
outro, até que acabe em um canto qualquer do chão ou na lixeira. O lixo é o
destino mais triste de um texto, cujo papel foi rasgado sem poder ter o seu
final escrito como o seu autor queria.
Pois é... somos sim um texto!! Mas que tipo de texto?
Escolha ser aquele que simplesmente é escrito sem se importar
se será lido ou não, mas que ao final terá vivido e provocado intensas emoções
naqueles que ousaram tirá-lo da estante...
Butterfly
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